As manhãs...
"(...) Nesta terra, as pessoas não respeitam a manhã. Acordam brutalmente ao som de um despertador que lhes rasga o sono com uma machadada e entregam-se logo a seguir a uma pressa funesta. É capaz de me dizer o que será depois um dia que começou com semelhante acto de violência? Que será feito dessas pessoas a quem o despertador ministra diariamente um choquezinho eléctrico? De dia para dia, vão-se acostumando mais à violência, cada vez mais esquecidos do que seja o prazer. Pode crer-me, o temperamento de um homem é decidido pelo que forem as suas manhãs. (...) gosto tanto destas horas matinais que atravesso lentamente como uma ponte ladeada de estátuas, para chegar da noite ao dia, do sono à vida desperta. É o momento do dia em que me agradaria mais a graça de um milagrezinho, de um encontro súbito que me persuadisse de que os sonhos da minha noite continuam e de que a aventura do sono e a aventura do dia não estão separadas por um precipício."
in "A Valsa do Adeus", Milan Kundera
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