sexta-feira, junho 16, 2006

Nostálgica prata a lua...

"Nostálgica prata a lua, minério verbal da saudade, hoje que eu queria falar de amor e constato as brandas navalhas que saem dele como se fossem sinais puídos em sua defesa, já não há gente para percorrer estes mapas, este destino para onde emigram os poetas, os encantados e os loucos a quem se pede que olhem fixamente, as naus felizes e penetrantes pelo tempo, mais jovens agora e mais vulneráveis ainda, nem nenhuma bebedeira que engane um marinheiro cantando o nome de quem ama, já nada há que valha para falar de pé no amor, as casas já não escondem a mão de um amante sondando alguma servil paixão, frágil e delicada, maculada em sacerdócio no nu dos beijos, porque estou eu insistindo em falar de amor onde ele nem respira e nem por si se imolam os cordeiros, nem arde sem febre e sem fúria, nem medo tem de tremer face ao adeus, amor que já foi uma longa vertigem, uma tontura aprazível, falar dele para quê se não o devolvem e o cultivam, se nem o sangue corre em prova da sua beleza, exijo que o pronunciem e riem-se de mim como se fosse patético o peso que lhe dou em minha vida, falar de amor com quem, quem que possa sentir a força misteriosa da sua música, caber nela visitado e invisível, mancha indelével na superfície da carne, um nome tardio, um poema sentenciado a morrer comigo, falar de amor como se me ordenasse a viver dentro de um abrigo, eu tento, mas as palavras que o vestem têm medo e preferem o silêncio a não serem entendidas."

Eduardo White

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