quinta-feira, junho 29, 2006

O Espaço do poeta...

“A escrivaninha negra com entalhes, os dois candelabros de prata,
o cachimbo vermelho. Está sentado, quase invisível, na poltrona,
com a janela sempre às suas costas. Por detrás dos óculos,
enormes e cautos, observa o interlocutor
à luz intensa, ele próprio oculto dentro de suas palavras,
dentro da História, com personagens seus, distantes, invulneráveis,
capturando a atenção dos outros nos delicados revérberos
da safira que traz num dedo, e alerta sempre para saborear-lhes as
expressões, nos momentos em que os tolos efebos
humedecem os lábios com a língua, admirativamente. E ele,
astuto, sôfrego, sensual, o grande inocente,
entre o sim e o não, entre o desejo e o remorso,
qual balança na mão de um deus, ele oscila por inteiro,
enquanto a luz da janela atrás lhe põe na cabeça
uma coroa de absolvição e santidade.
"Se a poesia não for a remissão - murmura a sós consigo -
não esperemos então misericórdia de ninguém."

Yannis Ritsos

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