quarta-feira, junho 14, 2006

Poema do mar...



"O poema é uma onda, o último rio selvagem
à procura da águia–real e do lobo, na húbis,
do poder pânico da natureza,
as suas águas correm rebeldes entre os bosques
no mais profundo caos filtrado de vapores do rio Sabor
desde a serra da Parada aos sobreiros, aos azinhais
entre maciços de granito até ao gesto da vaga
que se espraia numa elisão dos teus lábios escaldantes.

A Serra de Montesinhos, Vila Flor, a terra de Moncorvo,
os zimbrais de um Deus para os habitantes de Felgar com um buxo
a onda avança , recurva e sobe até à cristada Ponte da Portela.
Há traços de Paisagem nuvens que passam no Pathos,
Cegonhas, águias de Bonelli, numa atmosfera sensual
para o abutre do Egipto como nos rituais do Samurai
em galope veloz dos arqueiros nos seus sonhos sensoriais
como a toupeira da água tem uma seta para rezar à paz
dos Deuses pela chuva e pela boa colheita
pelo gato-bravo e pelo corço no alastre final,
do ritmo do mar.
Sempre a pulsação das ondas e das marés:
Aí procuro a harmonia e a melodia
como nas gravuras rupestres (...)
na passagem da poesia à música, à dança total,
o movimento rítmico natural."

in "As Praias do Sado", José Gil
foto: Tiago Estima

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