Voltei a pensar em ti...
"Dizem que o tempo cura.
É mentira.
O tempo não cura nada, o tempo alivia a dor, consola-nos a alma, ensina-nos a tratar os afectos como pessoas crescidas. Uma espécie de anestesia fraquinha, que nos faz distrair de nós mesmos. Das nossas emoções e da força dos nossos sentidos. E depois vêm os entendidos, movidos pela urgência da cura. Trazem o diagnóstico numa mão e a receita noutra. Chama-lhe obsessão, fixação, paranóia, teimosia, e para que ela se instale há que declinar o verbo esquecer, em todos os tempos e modos, como se alguém assim estivesse realmente interessado em esquecer. Mas na verdade tornámo-nos “artistas do amor” e a convalescença é apenas o analgésico da recaída – quando nos julgamos sarados de ausência, ela ganha contornos antigos e de repente agita-se à nossa frente maior do que nunca antes. É este o sentido trágico da vida: a dose a mais de amor, aquela que mata porque não morre. Contas feitas, o que prevalece são paródias de Carnaval… A pressão da água a explodir dentro dos balões, serpentinas partidas que não chegam a atravessar o dia, máscaras para esconder o cansaço, desfiles de ilusão pelas ruas da cidade e os tais corações de cetim brilhante, como a minha avó dizia: “brilham tanto que são falsos, filha, os verdadeiros vêm-se à distância”.
Entre a verdade que dói um bocadinho e a imitação que distrai um bocadinho, “faz-se da vida uma aventura errante.”
Na ausência tudo isto fica mais claro. Vou ver se não volto a pensar em ti…"
in “Coração de Cetim”, Maria de Lopo de Carvalho
Entre a verdade que dói um bocadinho e a imitação que distrai um bocadinho, “faz-se da vida uma aventura errante.”
Na ausência tudo isto fica mais claro. Vou ver se não volto a pensar em ti…"
in “Coração de Cetim”, Maria de Lopo de Carvalho
Etiquetas: Falar...
2 Comments:
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