sexta-feira, agosto 04, 2006

As queixas de um ícaro

"Os rufiões das rameiras são
Ágeis, felizes e devassos;
Quanto a mim, fracturei os braços
Por ter-me alçado além do chão.

É graças aos mais raros astros,
Que o céu envolvem num lampejo,
Que, agora cego, já não vejo
Dos sóis senão os turvos rastros.

Eu quis do espaço em toda parte
Achar em vão o fim e o meio;
Não sei sob que olho de ígneo veio
Minha asa eu sinto que se parte;

E porque o belo ardeu comigo,
Perdi a glória e o benefício
De dar meu nome ao precipício
Que há de servir-me de jazigo."

Charles Baudelaire

Etiquetas: