sábado, agosto 05, 2006

Vivia a ostra bela e ajuizadamente numa rocha...

"Vivia a ostra bela e ajuizadamente numa rocha.
Não sonhava com o amor, mas quando fazia bom tempo ficava boquiaberta, na maior beatitude possível. Encontrou-a porém o arenque, e foi uma paixão à primeira vista. Ficou perdidamente enamorado sem se atrever a confessar-lho. Ora num dia de Verão a ostra bocejava feliz e queda. Encolhido atrás de um rochedo o arenque contemplava-a mas, de súbito, beijar a bem amada foi um desejo tão forte que nem pôde refreá-lo.
Meteu-se então entre as placas abertas da ostra e esta, surpreendida, fechou-as decapitando o miserável que flutuou à deriva e sem cabeça, pelo oceano."

in "O Poeta Assassinado", Guillaume Apolinaire

Etiquetas: