Vivia a ostra bela e ajuizadamente numa rocha...
"Vivia a ostra bela e ajuizadamente numa rocha.
Não sonhava com o amor, mas quando fazia bom tempo ficava boquiaberta, na maior beatitude possível. Encontrou-a porém o arenque, e foi uma paixão à primeira vista. Ficou perdidamente enamorado sem se atrever a confessar-lho. Ora num dia de Verão a ostra bocejava feliz e queda. Encolhido atrás de um rochedo o arenque contemplava-a mas, de súbito, beijar a bem amada foi um desejo tão forte que nem pôde refreá-lo.
Meteu-se então entre as placas abertas da ostra e esta, surpreendida, fechou-as decapitando o miserável que flutuou à deriva e sem cabeça, pelo oceano."
in "O Poeta Assassinado", Guillaume Apolinaire
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