segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Afrodite e Ares


“Ares e Afrodite (Marte e Vénus - romanos) haviam se apaixonado perdidamente e estavam se encontrando às escondidas. Ele dera a ela muitos presentes, e a paixão de ambos estava no auge quando decidiram se encontrar no palácio de Hefastos, marido de Afrodite, num dia em que ele estivesse fora. Mas o Sol permanecera espionando e foi narrar ao ferreiro manco o embuste que se tramava. Consumido pela ira, Hefastos foi directo à sua bigorna e começou a confeccionar uma poderosa rede de correntes de ouro com a qual capturar e prender os amantes.

Com toda a astúcia, ele prendeu as correntes aos balaústres da cama com um tecido diáfano e declarou ostensivamente que ia sair da cidade. Ares, que vinha aguardando essa oportunidade, logo chegou e encontrou Afrodite à sua espera. Cheios de desejo, um pelo outro, correram para o quarto e se deitaram. Mas, exactamente como previra o esperto ferreiro, a teia dourada caiu sobre ambos de maneira que não podiam nem escapar nem se mover.
Ainda agindo como espião, o Sol informou Hefastos da sua presa, e o ferreiro em sua fúria clamou aos gritos que os deuses do Olimpo viessem testemunhar a traição.
Minha teia dissimulada irá mantê-los presos até que o Pai Zeus devolva cada um dos presentes que eu lhe fiz para conquistá-la. Ela pode ser sua filha, e uma linda criatura, mas é escrava das paixões.

Despertados pelos brados enfurecidos, os deuses do Olimpo acorreram todos para ver o que ocorria. As deusas, contudo, permaneceram em casa por modéstia. Quando Poseidon, Apolo e Hermes viram o triste casal, desataram a gargalhar incontrolavelmente. Quando pararam de rir, concordaram que Ares deveria pagar a fiança dos adúlteros – todos, excepto Hermes, que teria ele próprio arriscado qualquer coisa para deitar-se com a deusa dourada.
Finalmente, com Poseidon assegurando que pagaria a fiança de Ares no caso de ele se esquivar, Hefastos libertou-os. E os amantes fugiram – Ares para o norte da Grécia e Afrodite para seu templo favorito em Pafos, no Chipre, onde foi banhada e untada com óleo por suas serviçais, as Graças.”

Odisseia, Homero, Livro 8
Imagem: "Venus and Mars", Sandro Botticelli

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