terça-feira, maio 29, 2007

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"L'amour c'est quand le temps se transforme en mémoire et nous fait le présent d'un passé plein d'espoir."

Yves Duteil

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sábado, maio 26, 2007

Bebido o luar...

"Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver."

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa...

"Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa,
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.

O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.

Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.

Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.

Que, se quer, e, se veio, se desconhece
Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
Na noite agora fria."

Fernando Pessoa

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Minerva and the muses...

Hans Rottenhammer

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quarta-feira, maio 23, 2007

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"Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei para proteger.
Já ri quando não tinha vontade.
Já fiz amigos eternos.

Já amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado.
Já fui amado e não soube amar.

Já gritei e pulei de tanta felicidade.
Já vivi de amor e fiz juras eternas,
mas já me partiram o coração muitas vezes!

Já chorei a ouvir música e a ver fotos.
Já telefonei só para escutar uma voz.
Já me apaixonei por um sorriso.

Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e... tive medo de perder alguém especial
(e acabei perdendo!), mas sobrevivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida...
e tu também não deverias passar.
Vive!!!

O bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a VIDA é muito
para ser insignificante."

Charles Chaplin

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terça-feira, maio 22, 2007

Em todos os jardins...

"Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como um beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens."

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, maio 16, 2007

Vê-se dentro do céu...

"Vê-se dentro do céu prodigamente
quem minha amada entre outras damas veja.
E toda aquela que a seu lado esteja
rende graças a Deus por ser clemente.

Tanta virtude tem sua beleza
que inveja acaso às outras não consente,
por isso as tem vestida simplesmente
de confiança, de amor, de gentileza.

Tudo se faz humilde em torno dela;
por ser sua visão assim tão bela
às que a cercam também chega o louvor.

Pela atitude mostra-se tão mansa
que ninguém pode tê-la na lembrança
que não suspire, no íntimo, de amor."

Dante Alighieri

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Water serpents...

Gustav Klimt

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Tu és do sexo das formas sonhadas...

"Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras .
Mero perfil às vezes, mera atitude outras vezes, outras gesto lento apenas - és momentos, atitudes, espiritualizadas em minhas. Nenhum fascínio do sexo se subentende no meu sonhar-te, sob a tua veste vaga de madonna dos silêncios interiores. Os teus seios não são dos que se pudesse pensar em beijar-se. O teu corpo é todo ele carne-alma, mas não é alma é corpo. A matéria da tua carne, não é espiritual mas é espírito. És a mulher anterior à Queda, escultura ainda daquele barro que paraíso. O meu horror às mulheres reais que têm sexo é a estrada por onde eu fui ao teu encontro. As da terra, que para serem têm de suportar o peso movediço de um homem - quem as pode amar, que não se lhe desfolhe o amor na antevisão do prazer que serve o sexo? Quem pode respeitar a Esposa sem ter de pensar que ela é uma mulher noutra posição de cópula… Quem não se enoja de ter mãe por ter sido tão vulvar na sua origem, tão nojentamente parido? Que nojo de nós não punge a ideia da origem carnal da nossa alma - daquele inquieto corpóreo de onde a nossa carne nasce e, por bela que seja, se desfeia da origem e se nos enoja de nata"

in “Livro do Desassossego”, Fernando Pessoa

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sexta-feira, maio 11, 2007

Pequena elegia de Setembro...

"Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim."

in "Coração do dia", Eugénio de Andrade

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Hoje sinto-me assim...

Kate Moss

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sábado, maio 05, 2007

Hoje sinto-me assim...

Kate Moss
Quem perde és tu...

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quarta-feira, maio 02, 2007

Beijos...

"Antes do instante assinalado em que existe, o primeiro beijo é sempre um mistério. Pode olhar-se para lábios desconhecidos durante muito tempo, pode imaginar-se, mas haverá sempre tudo aquilo que não se conseguiu prever nem avaliar: afinal não havia maneira de compreende-los.
Ao terminar, o primeiro beijo parecerá sempre que foi demasiado breve: começou e acabou. Dentro do seu tempo, no entanto será enorme porque no mundo inteiro não existiu mais nada. Tudo se suspendeu nesse instante que se subdividiu numa infinidade de instantes, nos quais se avançou às escuras pelo caos das descobertas sucessivas. Mais tarde, depois do fim, esse instante de vida irrepetível será repetido vezes e vezes na memória, será impossivelmente revivido. Aquilo que andamos aqui a fazer, até morrermos, pode ser pontuado por todos os primeiros beijos que conseguimos e pudemos e quisemos dar, receber.

Para ele era assim. Era nisto que acreditava e que lhe acontecia sempre, em cada beijo. Havia mais de quinze anos que beijava a sua mulher e, em todas as vezes, todas, era diferente. Cada beijo era sempre um primeiro beijo. E, em cada um, havia o momento em que existia e havia, depois, a sua memória.

Para ela, que também o beijava havia mais de quinze anos, não era assim. Desde a primeira vez, que não encontrava qualquer sabor nos lábios dele, sentia-os como uma amálgama informe de pele áspera e seca. Gostava da sua simpatia, do hábito, da organização. Detestava os seus beijos. No emprego, felizmente, havia um homem, mais velho, que já tinha reparado nela e em quem ela já tinha reparado. O seu pequeno problema seria resolvido em breve."

José Luís Peixoto

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