simplesmente...
Tenho o mais simples dos gostos, satisfaço-me apenas com o melhor.
sábado, setembro 30, 2006
Saber esperar...
"Quem sabe esperar o bem que deseja não toma a decisão de se desesperar se ele não chega; aquele que, pelo contrário, deseja uma coisa com grande impaciência, põe nisso demasiado de si mesmo para que o sucesso seja recompensa suficiente.
Há pessoas que querem tão ardente e determinantemente certa coisa, que por medo de perdê-la, não esquecem nada do que é preciso fazer para perdê-la.
As coisas mais desejadas não acontecem; ou se acontecem, não é no tempo nem nas circunstâncias em que teriam causado extraordinário prazer."
in "Os Caracteres", Jean de La Bruyére
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Longe de ti...
"Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram ... choram ...
Há crisântemos roxos que descoram ...
Há murmúrios dolentes de segredos ...
Invoco o nosso sonho! Estendendo os braços!
E ele é, ó meu amor, pelos espaço,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!"
Florbela Espanca
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quinta-feira, setembro 28, 2006
Destino escondido...
"O amor é terrivelmente permanente e cada um de nós só tem direito à sua pequena porção. Pode aparecer sob uma infinidade de formas e prender-se a uma infinidade de pessoas. Mas é limitado em quantidade, e não pode esgotar-se e desaparecer antes de alcançar o seu verdadeiro objecto. O seu destino oculta-se algures, nas mais profundas regiões da alma, onde acabará por se reconhecer como o amor de si..."
Lawrence Durrel
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Há palavras que nos beijam...
"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."
Alexandre O’ Neill
imagem: Marc Chagal
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quarta-feira, setembro 27, 2006
Les pas...
"Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procèdent muets et glacés.
Personne pure, ombre divine,
Qu'ils sont doux, tes pas retenus !
Dieux !... tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus !
Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l'apaiser,
A l'habitant de mes pensées
La nourriture d'un baiser,
Ne hâte pas cet acte tendre,
Douceur d'être et de n'être pas,
Car j'ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n'était que vos pas."
Paul Valéry
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Hoje sinto-me assim...
Aquilino Ribeiro
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terça-feira, setembro 26, 2006
Alegre menina...
"O que fizeste sultão de minha alegre menina?
Palácio real lhe dei, um trono de pedraria
Sapato bordado a ouro, esmeraldas e rubis
Ametista para os dedos, vestidos de diamantes
Escravas para serví-la, um lugar no meu dossel
E a chamei de rainha, e a chamei de rainha
O que fizeste sultão de minha alegre menina?
Só desejava as campinas, colher as flores do mato
Só desejava um espelho de vidro prá se mirar
Só desejava do sol calor para bem viver
Só desejava o luar de prata prá repousar
Só desejava o amor dos homens prá bem amar
No baile real levei a tua alegre menina
Vestida de realeza, com princesas conversou
Com doutores praticou, dançou a dança faceira
Bebeu o vinho mais caro, mordeu fruta estrangeira
Entrou nos braços do rei, rainha mas verdadeira."
in "Gabriela, Cravo e Canela", Jorge Amado
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segunda-feira, setembro 25, 2006
...
"Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a
primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
que te procuram."
in "A Colher na Boca", Excerto do poema Tríptico, Herberto Helder
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Transforma-se o amador na cousa amada...
"Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma."
Luís Vaz de Camões
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domingo, setembro 24, 2006
...
"Quem sabe se o mundo não seria um pouco mais decente se soubéssemos como reunir umas quantas palavras que andam por aí soltas, Duvido que alguma vez as pobres desprezadas venham a encontrar-se, Também eu, mas sonhar é barato, não custa dinheiro"
in “Ensaio sobre a Lucidez” José Saramago
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A vida não está por ordem alfabética...
"A vida não está por ordem alfabética como há quem julgue.
Surge... ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são migalhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cimo e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, espalma-se e resta-te apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e continuas à nora, insistes no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado... até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, deixaste na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começas a desconfiar que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas."
in "Tristano Morre", António Tabucchi
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sábado, setembro 23, 2006
...
"E entre palavras delicadas e graças espirituosas, Sócrates ensinava a Fedro o desejo e a virtude. Falou-lhe do temor ardente que acomete o homem sensível quando os seus olhos vislumbram uma semelhança do belo eterno: falou-lhe da avidez do homem ímpio e vil, incapaz de pensar o belo ao ver a sua imagem, incapaz de veneração; falou do medo sagrado que invade o homem nobre quando contempla uma face divina , um corpo perfeito – como então estremece e sai fora de si, mal ousando olhar, e como venera aquele que é belo, sim como se ofereceria em sacrifício a este ídolo, se não receasse parecer ridículo aos olhos dos homens. Pois o belo apenas, Fedro, é amável e visível a um tempo; é a única forma de espírito, ouve bem!, que os nossos sentidos podem apreender, que os nossos sentidos podem suportar. Pois que seria de nós se o divino, a razão e a virtude e a verdade, se mostrassem em si aos nossos sentidos?(…)
O belo é assim o caminho do homem sensível para o espírito – só o caminho, um meio apenas, pequeno Fedro..."
in "Fedro", Platão
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Lasting harmony...
"The movement of the waves, of winds, of the earth is ever in the same lasting harmony.
We do not stand on the beach and inquire of the ocean what was its movement of the past and what will be its movement of the future. We realize that the movement peculiar to its nature is eternal to its nature..."
Isadora Duncan
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O dom feminino...
"As mulheres aprendem a observar nos outros aquilo a que mais tarde chamam intuição.
É uma qualidade quase exclusiva do foro feminino e é por isso que os homens que também a possuem chegam mais longe. A essa capacidade de antecipar a realidade, de ler no olhar uma subtileza, de interpretar a vontade e o medo nas batidas de um coração, os homens chamam-lhe instinto, as mulheres, intuição.
É a intuição que diz a uma mulher que está a gerar uma criança mesmo antes de fazer o teste da gravidez, que indica os caminhos do coração quando a dúvida se instala, que lhe diz quando deve lutar por um homem ou desistir dele. É uma espécie de mapa interior, de guia invisível, de alarme adiantado à inevitabilidade da vida. A estes sinais, dados pelo acaso, por um centésimo de segundo de silêncio ou na troca furtiva de um olhar, é preciso interpretar o que sente e a partir daí perceber o que pode acontecer.
Nunca acreditei em bruxas nem adivinhos, prefiro lê-los nas histórias do que vê-los ao vivo a deitar cartas ou a atirar búzios ao ar, até porque acredito que o futuro é bom exactamente pelo desconhecido que guarda, mas já acertei demasiadas vezes nas previsões que fiz para poder desconsiderar a minha intuição.
O lado mau da involuntária omnisciência é conseguir cada vez menos que a vida me surpreenda, o que faz com que assista, quase de braços cruzados, a mudanças que não quero e nem sempre consigo aceitar. O lado bom é a antecipação de uma nova realidade e o tempo de preparação para enfrentar a tempestade que se avizinha, como fazem os habitantes das cidades por onde passam os furacões, trancando com tábuas a casa e o coração e esperando que passe depressa e provocando os mínimos danos possíveis.
Vejo a intuição como um atributo da alma, um dom guardado entre o coração e a cabeça, para lá da inteligência e da razão. Uma espécie de voz acima da realidade, como um balão a gás quente que consegue ver mais longe do que o olhar alcança, um código de barras que se descodifica a ele próprio, um telescópio da anatomia dos sentimentos, porque tem muito mais a ver com o que se sente do que com o que se pensa, com o que se imagina do que com o que se vê, com o que se teme do que com o que se deseja, sentindo como certo aquilo que o entendimento ainda não captou.
E é por isso que, quando o alarme começa a tocar, primeiro baixinho em tom de aviso, e depois, cada vez mais alto até me ensurdecer com a evidência que se aproxima, respiro fundo para ganhar forças e lembro-me que o futuro não é mais do que a projecção das sombras do meu passado, um lugar cómodo para arrumar os sonhos, no qual a imprevisibilidade e o mistério reinam e onde, talvez e apenas aí, a intuição descanse da sua sabedoria. Prefiro ter o dom da intuição a esperar placidamente pelo desconhecido, mesmo quando o desconhecido me traz todos os sonhos numa bandeja."
Margarida Rebelo Pinto
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quinta-feira, setembro 21, 2006
Hoje sinto-me assim...
Ameaçou chuva...
"Ameaçou chuva. E a negra
Nuvem passou sem mais...
Todo o meu ser se alegra
Em alegrias iguais.
Nuvem que passa... Céu
Que fica e nada diz...
Vazio azul sem véu
Sobre a terra feliz...
E a terra é verde, verde...
Por que então minha vista
Por meus sonhos se perde?
De que é que a minha alma dista?"
Fernando Pessoa
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Um dia...
Um dia pensarei que passei por ti como passam os pássaros por este campo que há-de tornar-se seco, no Inverno; e que a primavera que vivemos não há-de voltar, ao contrário dessa que todos os anos sucede ao Inverno, trazendo consigo esses pássaros de que me lembro ao pensar que estou sem ti, agora que todas as viagens chegaram ao fim, e uma pausa se prolonga até se tornar definitiva. Mas não é por pensar isso que me sinto longe de ti: o que talvez me faça sofrer, como se o sofrimento não fosse uma parte do amor, e se substitua a ele, quando o tempo impõe as suas regras, e nos lembra que dependemos de pequenas coisas para que tudo mude, de um dia para o outro, tornando-nos outros do que fomos, embora continuemos a sentir o que sempre sentimos. Então, dirás, alguma coisa valeu a pena? E eu respondo que a migração dos pássaros é um sintoma de que os hábitos não mudam quando queremos; e a vontade dos que querem ficar leva-os à morte, como se entre morrer e amar houvesse um elo que não sabemos de onde vem, mas se manifesta na melancolia de um bater de asas, sob os ramos da árvore, quando o céu de chuva impede o voo para cima dos seus ramos. Mesmo que peguemos nessa ave, de pouco servirá: o seu destino foi escolhido por ela, e quando isso acontece nada podemos fazer. Debate-se, procurando escapar aos dedos que a prendem; e esse gesto leva-a para onde não lhe chegamos, a não ser com o olhar, sabendo que no dia seguinte o ramo irá ficar vazio. Assim, voltei ao café onde tantas vezes te esperei: e não havia ninguém na mesa, como se a maldição tivesse tomado conta do lugar. "É do Inverno", disse o patrão, "ninguém sai de casa com este tempo." Não lhe dei outras razões. O que eu sei, levaste-o contigo, neste Inverno em que nem os pássaros querem ficar."
Nuno Júdice
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quarta-feira, setembro 20, 2006
...
"Quem sonha de dia tem consciência de muitas coisas que escapam a quem sonha só de noite."
Edgar Allan Poe
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terça-feira, setembro 19, 2006
Qui ne bat que pour vous...
"Voici des fleurs, des fruits, des feuilles et des branches
Et puis voici mon cœur qui ne bat que pour vous
Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches
Et qu'à vos yeux si beaux, l'humble présent soit doux."
Paul Verlaine
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El olvido...
Sólo una cosa no hay. Es el olvido.
Dios, que salva el metal, salva la escoria
Y cifra en Su profética memoria
Las lunas que serán y las que han sido.
Ya todo está. Los miles de reflejos
Que entre los dos crepúsculos del día
Tu rostro fue dejando en los espejos
Y los que irá dejando todavía.
Y todo es una parte del diverso
Cristal de esa memoria, el universo;
No tienen fin sus arduos corredores
Y las puertas se cierran a tu paso;
Sólo del otro lado del ocaso
Verás los Arquetipos y Esplendores.
Jorge Luis Borges
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Há palavras que nos beijam...
"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes."
Alexandre O'Neill
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domingo, setembro 17, 2006
"Como diz o outro: "a arte não persegue ninguém, é preciso ir à procura dela". E o amor é uma arte dinâmica."
Agustina Bessa-Luís
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Havia na minha rua um rapaz gordo...
"Havia na minha rua um rapaz gordo
que comia a sua merenda e a dos outros
com uma verocidade animalesca
que tingia de vergonha o rosto enrugado
das velhas conspirando intrigas
atrás das cortinas de renda
saídas das mãos trémulas das avós.
As cortinas conseguiam ser mais velhas
que as próprias velhas vigiando o mundo
com a aparência infinita das bordadeiras.
O rapaz gordo que comia as merendas
nunca leu um poema, posso garantir,
e muito menos alimentou a esperança
de poder um dia vir a ser citado
num verso só que fosse. Mas aconteceu.
Se lhe franqueio as portas desta lembrança
é porque a poesia é, afinal, tão voraz
como esse devorador de merendas,
como esse ladrão de bolas de Berlim
que assaltava cacifos e pastas
em busca do êxtase de um doce.
A poesia assalta memórias,
devassa infâncias, viola segredos indizíveis,
confisca mistérios, retratos e cartas.
E não engorda, e não se arrepende, e não sabe,
não quer e não pode pedir desculpa.
Ela devora o corpo de quem escreve,
mas fá-lo sempre em nome da alma."
in "O Livro Branco da Melancolia", A grande Devoradora, José Jorge Letria
imagem: Fernando Botero
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sábado, setembro 16, 2006
Stormy weather...
"Don't know why, there's no sun up in the sky
Stormy weather,
since my man and I ain't together
Keeps raining all the time
Life is bare, gloom and misery everywhere
Stormy weather,
just can't get my poor old self together
I'm weary all the time, the time, so weary all of the time
When he went away, the blues walked in and met me
If he stays away, old rocking chair will get me
All I do is pray, the lord above will let me
walk in the sun once more
Can't go on, everything I had is gone
Stormy weather,
since my man and I ain't together
Keeps raining all the time
Keeps raining all of the time
I walk around heavy-hearted and sad
Night comes around and I'm still feeling bad
Rain pourin' down, blinding every hope I had
This pitter andd n patter and beating, spattering driving me mad
Love, love, love, love, the misery will be the end of me
When he went away, the blues walked in and met me
If he stays away, old rocking chair will get me
All I do is pray, the lord above will let me
Walk in the sun once more
Can't go on, everything I had is gone
Stormy weather, since my man and I ain't together
Keeps raining all the time, the time
Keeps raining all the time."
Ella Fitzgerald
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quinta-feira, setembro 14, 2006
Fazer o que se gosta ou gostar do que se faz?...
"Fazer o que se gosta ou gostar do que se faz?
Pode parecer o mesmo, mas é bem diferente. Já santo Agostinho dizia que o segredo de uma vida feliz estava em gostar - e aprender a gostar - de fazer aquilo que se tem que fazer e que é a nossa missão. Quem só faz aquilo de que gosta, limita-se a seguir os seus apetites e fica criança mimada. Nem é feliz, nem se pode contar com ele."
Padre Vasco Pinto de Magalhães
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A felicidade é amor, só isto...
"A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente AMAR."
Herman Hesse
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Hoje sinto-me assim...
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quarta-feira, setembro 13, 2006
Eu sei mas não devia...
"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduiche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
Agente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma."
Clarice Lispector
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Qual tem a borboleta por costume...
"Qual tem a borboleta por costume,
Que, enlevada na luz da acesa vela,
Dando vai voltas mil, até que nela
Se queima agora, agore se consume,
Tal eu correndo vou ao vivo lume
Desses olhos gentis, Aónia bela;
E abraso-me por mais que com cautela
Livrar-me a parte racional presume.
Conheço o muito a que se atreve a vista,
O quanto se levanta o pensamento,
O como vou morrendo claramente;
Porém, não quer Amor que lhe resista,
Nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
Qual em glória maior, está contente."
Luís Vaz de Camões
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terça-feira, setembro 12, 2006
Sin medida como un beso...
"Tantos días, ay tantos días
viéndote tan firme y tan cerca,
como lo pago, con que pago?
La primavera sanguinaria
de los bosques se despertó,
salen los zorros de sus cuevas,
las serpientes beben rocío,
y yo voy contigo en las hojas,
entre los pinos y el silencio,
y me pregunto si esta dicha
debo pagarla como y cuando.
De todas las cosas que he visto
a ti quiero seguir viendo,
de todo lo que he tocado,
solo tu piel quiere ir tocando:
amo tu risa de naranja,
me gustas cuando estas dormida.
Que voy a hacerle, amor, amada,
no se como quieren los otros,
no se como se amaron antes,
yo vivo viéndote y amándote,
naturalmente enamorado.
Me gustas cada tarde más.
Dónde estará? Voy preguntando
si tus ojos desaparecen.
Cuánto tarda! Pienso y me ofendo.
Me siento pobre, tonto y triste,
y llegas y eres una ráfaga
que vuela desde los duraznos.
Por eso te amo y no por eso,
por tantas cosas y tan pocas,
y así debe ser el amor
entrecerrado y general,
particular y pavoroso,
embanderado y enlutado,
florido como las estrellas
y sin medida como un beso."
Pablo Neruda
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O mais é nada...
"Navegue,
descubra tesouros,
mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela,
mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.
As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse você deve segurar,
não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta jóias,
tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia
que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira e se o milênio é outro,
se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver,
não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar
e as portas também.
Persiga um sonho,
mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor,
cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim
de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu
como se faz isso.
Acelere seus pensamentos,
mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!"Circunda-te de rosas,
ama, bebe e cala.
O mais é nada."
Fernando Pessoa
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segunda-feira, setembro 11, 2006
A vida é o dia de hoje...
"A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!"
João de Deus
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O artista é o criador de coisas belas...
"O ARTISTA é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte.
O crítico é aquele que pode traduzir, de um modo diferente ou por um novo processo, a sua impressão das coisas belas. A mais elevada, como a mais baixa, das formas de crítica é uma espécie de autobiografia. Os que encontram significação feias em coisas belas, são corruptos sem ser encantadores.
Isto é um defeito.
Os que encontram belas significação em coisas belas são cultos. Para estes há esperança.
Existem os eleitos para os quais as coisas belas significam unicamente Beleza.
Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo.
A aversão do séc. XIX ao Realismo é a cólica de Calibã por ver seu rosto num espelho.
A aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Calibã por não ver o seu rosto num espelho. A vida moral do homem faz parte do tema para o artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas. Nenhum artista tem simpatias éticas. A simpatia ética num artista constituiu um maneirismo de estilo imperdoável. O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir. Pensamento e linguagem são para o artista instrumento de uma arte.
Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte. Do ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, é a profissão do actor.
Toda arte é ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que buscam sob a superfície, fazem-no por seu próprio risco. Os que procuram decifrar o símbolo, correm também seu próprio risco.
Na realidade, a arte reflecte o espectador e não a vida. A divergência de opiniões sobre uma obra de arte indica que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que não a admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é completamente inútil."
in "O retrato de Dorian Gray", Oscar Wilde
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sexta-feira, setembro 08, 2006
Senhora das tempestades...
"Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terramoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas
crepúsculos carregados de presságios e o lamento
dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse
trazes a linha magnética da minha vida Senhora da minha morte
teu nome escreve-se na areia e é uma palavra que só Deus disse
quando tu chegas começa a música Senhora do vento norte.
Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe
e um anjo poisa-me nos ombros Senhora das Tempestades.
Senhora do sol do sul com que me cegas
a terra toda treme nos meus músculos
consonância dissonância Senhoras das vozes negras
coroada de todos os crepúsculos.
Senhora da vida que passa e do sentido trágico
do rio das vogais Senhora da litúrgia
sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.
Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita
alquimia de sons Senhora do vento norte
que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.
Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos
como um ritmo só ritmo como um ritmo.
Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias
batem as sílabas da noite e és tu a voz que dita.
Batem os sons os signos os sinais
trazes a festa e a despedida Senhora dos instantes
fica o sentido trágico do rio das vogais
o mágico passar das consoantes.
Senhora nua deitada sobre o branco
com tua rosa-dos-ventos e teu cruzeiro do sul
nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.
Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.
Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.
Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas.
Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso
tua ternura e teu chicote sobre a tristeza e a agonia
galopas no meu sangue com teu cateter chamado Pégaso
e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.
Tudo em ti é magia e tensão extrema
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.
Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhoras das tempestades."
Manuel Alegre
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...
"Todos os actores gostam dos palcos onde se demoram mais tempo, e o último tende a acamar por cima do primeiro como os estratos geológicos que deixam a terra à flor. É a ternura e apego à fragilidade de cada dia; o jogo duplica entre a efemeridade e o eterno."
Vitorino Nemésio
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quinta-feira, setembro 07, 2006
O meu amor não cabe num poema há coisas assim...
"O meu amor não cabe num poema há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
os quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura a mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer é um formigueiro
que acode aos lábios com a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente os segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. nenhum poema
podia ser o chão a sua casa."
Maria do Rosário Pedreira
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Luxúria...
"A luxúria é como a avareza: quantos mais tesouros tem, mais sôfrega se torna."
Baron de Montesquieu
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quarta-feira, setembro 06, 2006
The movement of the waves...
"The movement of the waves, of winds, of the earth is ever in the same lasting harmony. We do not stand on the beach and inquire of the ocean what was its movement of the past and what will be its movement of the future. We realize that the movement peculiar to its nature is eternal to its nature...
The primary or fundamental movements of the new school of the dance must have within them the seeds from which will evolve all other movements, each in turn to give birth to others in unending sequence of still higher and greater expression, thoughts and ideas... "
Isadora Duncan
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A Felicidade...
"O que abraça a uma mulher é Adão. A mulher é Eva.
Tudo acontece por primeira vez.
Hei visto uma coisa branca no céu. Dizem-me que é a lua, mas
que posso fazer com uma palavra e com uma mitologia.
As árvores me dão um pouco de medo. São tão formosas.
Os tranquilos animais se aproximam para que eu lhes diga seu nome.
Os livros da biblioteca não têm letras. Quando os abro surgem.
Ao folhear o atlas projecto a forma de Sumatra.
O que ascende um fósforo no escuro está inventando o fogo.
No espelho há outro que está à espreita.
O que olha o mar vê à Inglaterra.
O que profere um verso de Liliencron há entrado na batalha.
Hei sonhado a Cartago e as legiões que desolaram a Cartago.
Hei sonhado a espada e a balança.
Louvado seja o amor no qual não há possuidor nem possuída,
mas os dois se entregam.
Louvado seja o pesadelo, que nos revela que podemos criar o inferno.
O que descende a um rio descende ao Ganges.
O que olha um relógio de areia vê a dissolução de um império.
O que joga com um punhal pressagia a morte de César.
O que dorme é todos os homens.
No deserto vi a jovem Esfinge que acabam de lavrar.
Nada há tão antigo baixo o sol.
Tudo acontece por primeira vez, mas de um modo eterno.
O que lê minhas palavras está inventando-as."
Jorge Luís Borges
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terça-feira, setembro 05, 2006
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"Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real."
Sophia de Mello Breyner Andersen
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Uma alma grande e corajosa...
"Um espírito corajoso e grande é reconhecido principalmente devido a duas características: uma consiste no desprezo pelas coisas exteriores, na convicção de que o homem, independentemente do que é belo e conveniente, não deve admirar, decidir ou escolher coisa alguma nem deixar-se abater por homem algum, por qualquer questão espiritual ou simplesmente pela má fortuna. A outra consiste no facto - especialmente quando o espírito é disciplinado na maneira acima referida - de se dever realizar feitos, não só grandes e seguramente, bastante úteis, mas ainda em grande número, árduos e cheios de trabalhos e perigos, tanto para a vida como para as muitas coisas que à vida interessam.
Todo o esplendor, toda a dimensão (devo acrescentar ainda a utilidade), pertencem à segunda destas duas características; porém, a causa e o princípio eficiente, que os tornam homens grandes, à primeira.
Naquela está, com efeito, aquilo que torna os espíritos excelentes e desdenhosos das coisas humanas. Na verdade, pode isto ser reconhecido por duas condições: em primeiro lugar, se estimares alguma coisa como sendo boa unicamente porque é honesta, em segundo lugar, se te encontrares livre de toda a perturbação de espírito. Consequentemente, o facto de se ter em pouca conta aquelas coisas humanas e de se desprezar, com uma atitude de espírito firme e sólida, essas mesmas coisas, que a muitos parecem ilustres e exímias, deve constituir apanágio de uma alma grande e corajosa. Suportar aquilo que parece acerbo, que de muitas e variadas maneiras aflige a vida e a sorte dos homens (de modo por assim dizer a não renunciares à ordem natural e à dignidade do sábio), é próprio de um espírito robusto e de grande constância."
in "Dos Deveres", Marcus Cícero
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Hoje sinto-me assim...
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segunda-feira, setembro 04, 2006
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"Porque, nas práticas de gosto, primeiro cansam os sentidos que os desejos"
Francisco Roíz Lobo
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Amo as águas...
"Amo as águas no instante em que não são do rio
nem ainda pertencem ao mar
árduas planícies rosto incendiado pesando-me nos ombros
hirto...tatuado no entardecer de magoada cocaína
leio baixinho aquele poema Eu de Belaflor
nocturna sombra do corpo embriagado
fogos por descuido acesos no humido leito de juncos
altíssima margem...inacessível noite de Florbela
e o soneto dizia:
Sou aquela que passa e ninguém vê
Sou a que chamam triste sem o ser
Sou a que chora sem saber porquê
apesar de tudo conheço bem este rio
e o cuspo diáfano do coral o sono letárgico
os ternos lábios das grandes bocas fluviais
sinto o rigor das plantas erectas as vozes esparsas
os corpos de ouro enleados na violência das maresias
junto à foz de meu insegura desaguar...contínuo sentado
escrevo a desordem urgente das horas...medito-me
cuidadosamente o tabaco amargo pressente-te na garganta
e no fundo inóspito do corpo desenvolve-se
o desejo de fugir
espero o cortante sal-gema das ilhas... a ilusão
de me prolongar na secreta noite dos peixes
adormeço
para que estes dias aconteçam mais lentos
nas proximidades inalteráveis deste mar."
in "Salsugem", Al Berto
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sábado, setembro 02, 2006
Desejo-te...
"Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia de tão leve.
O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
Ímpeto que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
somos a maré alta de quem ama.
Por fim o sono calmo que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio."
Rosa Lobato Faria
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Há tanta beleza no Mundo...
"Há tanta beleza no mundo
De que nunca te consegues saciar
Que sempre te permanece fiel,
Que sempre podes contemplar:
A visão em redor do cume de um alpe,
No mar verdejante uma senda tranquila,
Um ribeiro que se lança do penhasco,
Uma ave, que canta na escuridão,
Uma criança que, a sonhar, esboça um sorriso,
O fulgor de uma estrela numa noite invernal,
Um arrebol num lago de águas límpidas
Coroado por prados e neves eternas,
Uma canção escutada de passagem junto à sebe,
Cumprimentos trocados com outros viandantes,
Uma recordação dos tempos de infância,
Uma suave mágoa, sempre desperta,
Que noites a fio, com a sua dor,
Te expande o coração apertado,
E sobre estrelas belas e pálidas,
Te constrói um remoto império de saudade."
in "Es gibt so Schönes", Hermann Hesse
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sexta-feira, setembro 01, 2006
Tudo isto são coisas...
"Tudo isto são coisas, coisas que nós podemos amar. Mas não posso amar palavras.É por isso que não aprecio as doutrinas, não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm arestas, não têm cheiro, não têm gosto, nada têm senão palavras.Talvez seja isso que te impede de encontrares a paz, talvez sejam as palavras em excesso. Porque também libertação e virtude, também Samsara e Nirvana são meras palavras. Nada existe que seja o Nirvana. Apenas existe a palavra Nirvana."
in "Siddhartha", Hermann Hesse
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Ai que prazer...
"Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca..."
Fernando Pessoa
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"The movement of the waves, of winds, of the earth is ever in the same lasting harmony.
We do not stand on the beach and inquire of the ocean what was its movement of the past and what will be its movement of the future. We realize that the movement peculiar to its nature is eternal to its nature."
Isadora Duncan
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